Decolagem atípica de aeronave da Azul ocorreu na tarde de segunda-feira (27) no Aeroporto de Congonhas.
Empresa aérea afirmou que o voo seguiu para o Rio de Janeiro sem problemas, mas irá investigar o ocorrido. Para especialistas, procedimento foi ‘anormal’.
Um avião da Azul decolou quase no fim da pista do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, na segunda-feira (27). Todos os especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que o procedimento é considerado anormal.
No entanto, eles discordam que o procedimento possa ser considerado errado ou grave.
“Toda a extensão da pista pode ser utilizada para a decolagem. É um procedimento correto, diante de algumas circunstâncias que desconhecemos.
Pode ser considerada uma decolagem anormal, mas não incorreta porque utilizou a pista disponível. Lógico que foi diferente e os fatores que levaram a isso devem ser estudados e esclarecidos”, afirma Roberto Peterka, especialista em segurança de voo.
O piloto Henrique Hacklaender, diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, destacou ao g1 a necessidade de uma investigação mais aprofundada para qualquer conclusão sobre o que houve com a decolagem.
Ainda de acordo com Henrique, a utilização de uma pista, em toda sua extensão, não costuma apresentar risco.
Um outro especialista ouvido pelo g1 afirmou, no entanto, que a decolagem da Azul pode ser considerada um incidente grave.
As decolagens são consideradas “normais” quando ocorrem razoavelmente antes do fim da pista.
“Um avião não pode correr a pista inteira porque, se tiver algum problema, ele precisa ter espaço para parar na pista. Correr a pista toda não é adequado. Essa decolagem foi completamente atípica, a pista inteira está disponível, mas não para ser totalmente utilizada. Existe um regulamento”, afirma.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) ainda avalia se vai enquadrar a decolagem da Azul como ocorrência aeronáutica.
“O Cenipa informa que foi notificado, na última segunda-feira (27/05), sobre um evento envolvendo a aeronave de matrícula PR-AXX no Aeroporto de Congonhas (SP). No momento, os dados relativos estão sendo coletados pelos investigadores para avaliação quanto a um possível enquadramento como ocorrência aeronáutica”.
Pilotos ouvidos pelo g1 afirmam que há diversas possibilidades para o piloto ter usado quase toda a pista:
alterações meteorológicas na hora da decolagem;
erro de cálculo envolvendo peso;
comprimento da pista ou da potência;
uso de uma técnica diferente pelo piloto.
Cálculo específico para cada decolagem
Não há um limite da pista igual para todos os aviões decolarem.
Peterka explica que todo voo é planejado por um Despachante Operacional de Voo da empresa, que calcula o momento ideal da decolagem, considerando:
altitude da pista;
extensão;
temperatura;
peso da aeronave.
O cálculo do peso inclui a carga, o combustível e os passageiros.
“Há necessidade de verificar esses cálculos declarados e, principalmente, se não foram feitos errados. Esse cálculo é feito para o piloto ter uma determinada distância, onde se o avião não atingir essa velocidade, deve abortar a decolagem com segurança. Analisando de longe e sem maiores informações, aparentemente o avião podia estar com peso superior ao declarado e por isso usou toda a pista e manteve um voo com baixo ângulo de subida”, completa.
Sinalização na pista baliza piloto
Uma pista de aeroporto possui faixas limitantes de pouso ou decolagem, semelhantes a uma faixa de pedestres, que sinalizam e balizam o piloto para o procedimento ser feito com segurança, mas não obrigam que seja feito nesse local. No caso do voo da Azul, a aeronave ultrapassou essa faixa.
Velocidade
Pilotos ouvidos pelo g1 explicaram que para qualquer avião decolar é preciso atingir uma certa velocidade depois de percorrer um determinado trecho da pista. As aeronaves são planejadas para decolar antes do fim da pista.
Essa velocidade específica é calculada para cada voo, pois pode variar conforme o tipo de avião, peso da aeronave, condições atmosféricas e condições da pista do aeroporto.
Para o cálculo, são considerados alguns fatores importantes, como a temperatura para o momento da decolagem, a pressão atmosférica, e pista molhada ou seca.
A análise desses dados é feita pelos pilotos com auxílio de um computador, justamente para saber a velocidade exata que ele irá decolar e também se deverá usar ou não a potência máxima do motor.
Após o cálculo da velocidade específica e potência de motor, o avião é programado para que decole antes do fim da pista e sobrevoe a cabeceira oposta com, no mínimo, 35 pés de altura, o que equivale a 12 metros de altura.
Decolagem da Azul
Segundo dados do site FlightRadar24, que monitora voos em tempo real, a aeronave da Embraer de modelo ERJ-190 decolou de Congonhas para Santos Dumont, Rio de Janeiro, às 16h35, chegando ao destino às 17h15.
Contudo, o momento da decolagem foi captado por uma câmera do canal no Youtube “Golf Oscar Romeo”, que registra voos ao vivo em Congonhas.
A câmera filmou justamente quando o avião usou quase toda a pista e chegou a fazer sobrevoo baixo sobre o sistema Emas (Engineered Material Arresting System) – materiais de engenharia para detenção de aeronaves, em tradução para o português.
Em nota ao g1, a Azul informou que abriu uma averiguação interna para apurar o ocorrido no voo AD 2610 (Congonhas-Santos Dumont).
“A companhia ressalta que opera de acordo com padrões nacionais e internacionais de segurança, seu valor primordial, e que o referido voo seguiu para o destino sem qualquer intercorrência”, disse.